Era uma vez… a história da escrita…
O desejo de se comunicar sempre existiu em nós.
E só graças a habilidade social que desenvolvemos, que a espécie Homo sapiens foi capaz de sobreviver.
Os homens (e mulheres) das cavernas começaram a contar suas histórias e a transmitir experiências e sentimentos através das pinturas rupestres, como essas aqui:
Mas a história da escrita não começou nessa época.
E não pelo fato de, tecnicamente, serem desenhos, mas sim por não possuírem um padrão entre eles (guarde essa informação porque vamos voltar nela mais tarde).
Ao pensar na melhor invenção humana, o que vem imediatamente à sua cabeça?
- Energia elétrica?
- Internet?
- Lâmpada?
- Telefone?
Difícil escolha, não? Afinal, todas elas impactaram de forma estrondosa o mundo em que vivemos hoje.
Mas… e se dissesse que a escrita também é uma das melhores tecnologias já inventadas?
Se a habilidade social, e por consequência, de comunicação, foi tão importante para a sobrevivência da nossa espécie, como não colocar na lista uma descoberta que transformou a maneira como passamos ideias, emoções, vivências e ensinamentos uns para os outros?
Imagine um mundo sem escrita…
Não teríamos livros.
Nunca teríamos acesso aos pensadores já mortos há muito tempo.
Não teríamos registro do nosso passado.
E provavelmente não teríamos nenhuma das tecnologias que hoje não vivemos sem.
A escrita não só foi essencial para que os seres humanos entendessem o funcionamento do Universo, como uns dos outros.
E o mais importante: o de si mesmo.
A história da escrita é a história do mundo como conhecemos hoje.
E ela começou assim…
Os primórdios da história da escrita
Entre 3.500 e 3.000 A.C. na Suméria, parte sul da antiga Mesopotâmia, pessoas começaram a se reunir em comunidades, que viraram cidades, que se transformaram em Estados.
Ainda assim, uma das construções e instituições mais importantes do início da civilização humana eram as religiosas.
Não apenas eram as maiores construções, mas também as mais procuradas pelas pessoas para seus momentos de conexão espiritual.
Na medida em que as cidades foram crescendo, os templos deixaram de ser apenas lugares para fazer adoração dos deuses.
Passaram a centralizar a produção de alimentos e bens de consumo da época, tornando-se uma espécie de armazém nos tempos de abundância e centro de distribuição nos momentos de baixa.
Foi esse sistema que garantiu o funcionamento das cidades em crescimento.
Até agora não falamos da história da escrita em si, mas estamos chegando lá.
Conforme a cidade aumentava, você pode imaginar que a complexidade do controle de entrada e saída de tudo que era produzido também.
Podemos dizer que a figura do fiscal apareceu nessa época também.
O responsável pelo controle usava tábuas de argila para fazer marcações.
A cada item que entrava no templo, uma marcação era feita.
Essas tábuas eram armazenadas para que os pastores pudessem controlar exatamente o que tinham à sua disposição.
A característica fundamental da comunicação escrita
O fiscal desenhava uma figura parecida com uma folha de trigo na tábua de argila. E, imediatamente abaixo, fazia riscos, indicando as quantidades de entrada.
Nesse momento, as pessoas ainda seguiam apenas desenhando.
Com o passar do tempo, para agilizar o processo de anotação, esse desenho da folha de trigo passou a ser mais simples, mais abstrato.
Para não ter que desenhar todos os tipos de itens que entravam e saiam do estoque, foram instituídos símbolos e seus respectivos significados, que seriam usados por todos.
Lembra que falei da parte da padronização lá em cima?
Então, apesar dos sumérios ainda usarem símbolos para se comunicar, um padrão que fosse facilmente reconhecido por todos os envolvidos surgiu.
As cidades não pararam de crescer, logo, a agilidade no processo também precisava aumentar.
Os símbolos representavam não só o item em si, mas também toda a palavra usada para denominar aquele elemento.
Algo mais ou menos assim
Porco = ?
Imagine a dificuldade para desenhar um porco em uma tábua de argila…
Ainda não dá para dizer que esse foi o nascimento da comunicação escrita, afinal, cerca de mil símbolos representando apenas itens do cotidiano dos sumérios ainda está muito longe da maneira como escrevemos hoje, não?
A evolução da escrita
Para expressar conceitos mais complexos que controles de entrada e saída de suprimentos e apenas alguns itens da época, um sistema de escrita mais elaborado foi adotado pelos sumérios.
Ao invés de símbolos representando itens, foram substituídos por símbolos representando sons, ou seja, a língua falada dos sumérios.
Por que isso foi tão importante?
Antes, determinado símbolo significava, digamos, vaca.
Mas não havia meios de indicar se essa vaca estava viva ou morta, se ela estava chegando ao templo ou saindo e qual seria sua função naquele lugar (se ela seria usada em um sacrifício ou como vaca-leiteira, por exemplo).
Para indicar algo do tipo, outro símbolo passou a ser adicionado, digamos a figura representativa da vaca com a do templo, por exemplo, que diria que ela estava entrando naquele local.
Como a escrita ganhou o mundo
Com a formação do estado, novos regulamentos exigiam que os nomes dos indivíduos que geravam ou recebiam mercadorias registradas fossem inseridos nas tábuas.
Como os símbolos eram usados para representar sons, e não mais itens, foi possível escrever nomes de pessoas usando o que se chama de logograma.
Como esse aqui:
KÚ (comida) + A (água) = KUA (peixe)
Como o sumério era principalmente uma linguagem monossilábica, cada logograma significava uma sílaba.
A escrita passou a ser utilizada além da contabilidade de bens de consumo, e começou a ser encontrada em túmulos com os nomes dos falecidos.
Possivelmente como forma de imortalizar a existência daquela pessoa, garantindo assim a vida eterna, de acordo com a crença religiosa dos sumérios.
Outros sistemas de escrita
A segunda fase da evolução da escrita resultou na disseminação da Suméria para as regiões vizinhas.
O Egito foi uma delas.
As primeiras inscrições egípcias, pertenciam às tumbas reais.
Eles consistiam em rótulos de marfim e artefatos cerimoniais, pegando emprestado o sistema sumério, mas não os seus símbolos.
No Egito, o repertório consistia em hieróglifos representando itens familiares na cultura egípcia que evocavam sons em sua própria língua.
Já na China, a origem da escrita permanece um mistério, ao passo que a evolução suméria foi documentada por um período de mais de 10 mil anos.
Mas a escrita chinesa nunca precisou ser decifrada porque os sinais mudaram pouco durante os 3400 anos de sua existência registrada.
Quando a última tábua de argila foi cunhada, a escrita cuneiforme já estava em vigor há mais de 3 mil anos.
O que deu lugar à nada prática argila?
O papel e o alfabeto que tanto conhecemos hoje.
Como chegamos no sistema de escrita que conhecemos hoje
Os primeiros escritores estabeleceram um sistema que mudaria completamente a natureza do mundo em que viviam.
O passado e as histórias do povo agora podiam ser preservados.
A transição da escrita cuneiforme para o alfabeto não aconteceu de uma hora para outra.
Na verdade, levou alguns séculos para essa transição finalmente chegar ao fim.
Mas foram os comerciantes fenícios, estabelecidos na costa dos dias atuais Síria e Líbano, que tiveram um papel importante na difusão do alfabeto, ao trazer seu sistema alfabético consonantal para a Grécia.
Os gregos aperfeiçoaram o alfabeto adicionando letras para vogais — sons de fala nas articulações nas quais o canal de respiração não está bloqueado, como a, e, i, o, u.
A contribuição do alfabeto pelos fenícios tornou a escrita mais fácil e mais acessível a outras culturas, mas o sistema básico de colocar símbolos no papel para representar palavras e conceitos começou muito antes.
Desde a sua criação, a escrita serviu para comunicar os pensamentos e sentimentos do indivíduo e da cultura e sua história e preservar essas experiências para as gerações futuras.
Sempre foi sobre contar histórias.
A invenção da imprensa em 1450 possibilitou que a comunicação humana escrita espalhasse ainda mais esse conhecimento.
Hoje vivemos o momento da explosão de conteúdo, escrito em especial, graças à internet.
Que podemos dizer que talvez seja a segunda melhor invenção de todos os tempos?
Enfim… é aqui história da escrita finalmente começa!